Motor
//
Todas as notícias

Um desafio para os que partem. Um sonho para os que ficam

Publicado em:: 02/01/2024

Em vésperas do Rali Dakar 2024, falámos com Ricky Brabec e Skyler Howes, os dois pilotos americanos da Monster Energy Honda que esperam conquistar o derradeiro prémio.

Conduzir uma mota é uma arte, mas o Rali Dakar é muito mais; é preciso dar tudo por tudo até se tornar uma obsessão. A corrida de 14 dias é tão extrema que requer o teu coração, a tua coragem e toda a tua concentração.

O vencedor do Dakar de 2020, Ricky Brabec, e o vencedor do pódio de 2023, Skyler Howes, os dois pilotos americanos da Monster Energy Honda Team, reflectem sobre esta incrível viagem ao desconhecido que todos os anos, desde 26 de dezembro de 1978, se tem repetido como um ritual que nem o tempo conseguiu arranhar.  

 

Como Thierry Sabine costumava defini-lo, o Rali Dakar continua a ser "um desafio para aqueles que vão. Um sonho para os que ficam para trás".


 

No dia 5 de janeiro de 2024, a 46ª edição do rali mais duro do mundo arranca de Al Ula, na Arábia Saudita, e verá a meta em Yanbu, nas margens do Mar Vermelho, após 7.891 km de pistas, dunas e caminhos rochosos, incluindo 4.727 km de etapas especiais.

Ricky Brabec e Skyler Howes estão prontos para o novo desafio e falámos com eles antes de partirem para a Arábia Saudita.

...
...

Como é que vê o percurso de 2024?

Ricky: "Penso que será benéfico para os pilotos americanos o facto de ser mais físico, com uma navegação difícil, caminhos mais rochosos e duros. Estou ansioso por voltar e jogar em terrenos mais exigentes, porque é onde nos destacamos e a nossa moto Honda está a funcionar muito bem".  

Skyler: "Estou muito entusiasmado porque este ano o percurso apresenta etapas longas com muitos trilhos e caminhos pedregosos onde a navegação pode ser mais difícil. Prefiro as rochas às etapas com 100% de dunas, porque são mais parecidas com as corridas no deserto a que estamos habituados".

 

O novo cronómetro de 48 horas traz de volta o espírito original do Dakar...

Ricky: "A etapa chrono é em direção ao deserto de Empty Quarter e vai ser muito divertida. Será um pequeno jogo, porque haverá mais opções de acampamentos e será estranho descobrir onde estão os outros pilotos. É um formato interessante que traz de volta o sentimento de aventura".  

Skyler: "De volta às raízes. Gosto deste novo formato porque traz de volta o espírito original do rali, quando se parava quando o sol se punha e se saltava para a mota ao nascer do sol, pedalando o dia inteiro. Gostaria de ver esta fórmula ser aplicada a todas as etapas maratona".

 

Com etapas tão longas, a estratégia será crucial. Qual é a vossa abordagem?  

Ricky: "Os primeiros dois dias serão muito importantes porque, sendo tão exigentes do ponto de vista físico, algumas pessoas podem esforçar-se um pouco mais e cometer erros. É nessa altura que as coisas têm de ser resolvidas primeiro, em vez de se esforçarem a 100 por cento. Em suma, as etapas longas são melhores para mim, porque dão mais oportunidades para recuperar tempo".  

Skyler: "De certeza que o que acontecer na primeira semana vai fazer a diferença".

 

Qual seria o teu conselho número um para um principiante?

Ricky: "O Dakar é uma corrida de sobrevivência, mas hoje em dia estamos a andar tão depressa que é preciso aprender a sobreviver, mas continuando a esforçarmo-nos a 100 por cento. O mais difícil é mantermo-nos totalmente concentrados durante 8 horas por dia. Um conselho? Mantém-te preparado e se pensas que sabes o que te espera, não fazes ideia. O Rali Dakar é uma viagem ao desconhecido".  

Skyler: "Eu daria o mesmo conselho que recebi na minha estreia e que não segui, que é: "Não te preocupes com os resultados, concentra-te apenas em terminar a etapa, especialmente no dia da maratona. Em vez disso, preocupei-me e fui demasiado agressivo com os pneus".

"OS DOIS PRIMEIROS DIAS SERÃO MUITO IMPORTANTES PORQUE, SENDO TÃO EXIGENTES DO PONTO DE VISTA FÍSICO, ALGUMAS PESSOAS PODERÃO ESFORÇAR-SE UM POUCO MAIS E COMETER ERROS..."

Uma dica para quando fizeres a mala?

Ricky: "Certifica-te de que levas toalhetes para bebés e, definitivamente, bálsamo para os lábios, porque o vento agride os teus lábios quando conduzes durante 8 a 10 horas, e leva os teus petiscos preferidos, pois não os vais encontrar na Arábia Saudita".  

Skyler: "Traz um casaco quente e luvas quentes para a ligação fria da manhã. No primeiro ano quase morri de frio".


Trazes alguma coisa que te faça lembrar de casa?

Ricky: "Na verdade, nada. Estou em contacto com a minha mãe e os meus amigos, que me mandam fotografias dos meus cães! (sorri).      

Skyler: "Antes da viagem, preparo o pequeno-almoço que vou tomar no Dakar quando acordo. O pequeno-almoço é um momento muito importante para mim, por isso, apesar do despertador madrugador, quando ainda está escuro e gelado lá fora, acordo com algo bom para o meu corpo que também me faz lembrar de casa".

 

O crescimento tem lugar fora da nossa zona de conforto. Pode dizer-nos qual foi o limite que teve de ultrapassar?

Ricky: "Se quisermos ter uma hipótese de ganhar, temos de sair da nossa zona de conforto e fazer coisas que não queremos fazer, mas que temos de fazer. Um exemplo? Deixar a vida doméstica fora do teu cenário".  

Skyler: "O Dakar é tão extremo que, por definição, leva-nos a ultrapassar os nossos limites. É engraçado dizê-lo, mas andar a cavalo é a minha zona de conforto. As longas e húmidas manhãs frias, quando ainda está escuro, não são definitivamente a minha zona de conforto. O mesmo acontece quando se tem de usar as casas de banho públicas e os duches frios no bivouac. Mas se tiver de escolher um momento, diria que é o tempo em que era corsário.  Lembro-me de ter tido de vender tudo e de organizar uma campanha de angariação de fundos para conseguir o orçamento. Isto estava definitivamente fora da minha zona de conforto!"
 

Como é que se sente com a nova mota Honda?

Ricky: "É a mota da nova geração e estamos muito entusiasmados por trazê-la para o Dakar. A HRC está sempre a melhorar e a fazer coisas melhores: A nova CRF 450 Rally é mais rápida e fácil de conduzir na areia. O desenvolvimento foi bom e tem sido um trabalho árduo".  

Skyler: "É realmente impressionante. Normalmente, com uma mota nova é preciso trabalhar muito no desenvolvimento, mas esta mota, pelo contrário, é nova e está pronta. Quando a utilizei pela primeira vez, só tive de fazer alguns ajustes na suspensão e estava pronta para a corrida".

 

Quão especial é correr para a equipa de fábrica Monster Energy Honda?

Ricky: "Este é o meu oitavo ano e é como um sonho tornado realidade. Este é o objetivo para o qual estava a trabalhar em 2011 e 2012, quando ainda era um piloto privado. Gosto muito desta equipa. Dão-me muita liberdade".    

Skyler: "Aprendi a pilotar numa Honda e passei os meus primeiros anos como piloto privado na moto japonesa, por isso, para mim, é um sonho tornado realidade. Desde o início que desejava correr o Dakar com a Honda e aqui estamos nós".

 

Qual é o vosso objetivo?

Ricky: "O objetivo é ganhar. É sempre para ganhar, não é?"

Skyler: "O primeiro objetivo é terminar o rali. Claro que todos queremos ganhar, mas temos de ser realistas. O Dakar pode atirar-nos tudo e mais alguma coisa, por isso a minha filosofia é dar tudo e fazer o melhor possível todos os dias, para que, quando chegar ao fim, fique feliz de qualquer forma, quer ganhe ou perca".  

 

Preferes ser o caçador ou a presa?

Ricky: "O caçador, vá lá! Ninguém quer ser caçado, toda a gente quer ser o leão, mas não é fácil".  

Skyler: "Quando corro nos EUA, prefiro ser a caça. Gosto de estar na frente, mas no Dakar é melhor ser o caçador, porque abrir a etapa pode ser mais arriscado. Não se tem referências e não se sabe se se está a andar suficientemente rápido".

 

 

Pode acompanhar o progresso do Ricky, do Skyler e do resto da equipa com actualizações diárias aqui no MonsterEnergy.com - boa sorte, rapazes!